O novo coração de Paris
pelo viajante Guilherme Guerra, em
Após 5 anos de obras, foi inaugurado no dia 5 de abril pela prefeita Anne Hidalgo a parte mais vistosa do novo Les Halles de Paris. A concepção de uma estrutura “leve, fluida e translúcida”, segundo os arquitetos e criadores Patrick Berger e Jacques Anziutti, recebeu o nome de Canopée, algo como “copa” (em referência à copa de uma árvore).
Completamente diferente do que havia ali em 2007, quando foi dado o sinal verde para a reforma do bairro a partir da chamada de projetos, a obra está prevista para ser entregue em sua plenitude em 2018. O centro se tornou muito mais amplo, com esta grande copa amarelo-envidraçada erguida a 14 metros do solo. O número de lojas passou de 115 para 150 e a frequentação estimada segundo a direção deve passar de 33 para 40 milhões de pessoas ao ano. Outros destaques são uma loja da Lego com 287m² e dois restaurantes, o “Le Champeaux” do chef Alain Ducasse e uma brasserie / café projetada por Philippe Starck, de nome Za.
A exemplo do que ocorreu com o ícone máximo da Cidade Luz, a Torre Eiffel (mas longe de querer tecer comparações com esta), o novo espaço-monumento dividiu as opiniões dos parisienses. Alguns acharam muito ousado, incompatível com a arquitetura uniforme do século XIX da cidade. Outros dizem que veio na medida certa para, ao lado de obras como o prédio que abriga a Fondation Louis Vuitton, situada na Bois de Boulogne, dar um ar de renovação à cidade.
O início dos Halles remonta o século XII, quando o então rei Louis VI transferiu dois antigos mercados da cidade para o bairro de Les Champeaux (que antecedeu o bairro dos Halles), à época já de importância central na vida da cidade. Por ali já se instalaram mercados de têxteis, abatedouros, mercados de peixes, trigo e outros inúmeros gêneros que abasteciam Paris. Na virada do século XVIII para o XIX sofre com problemas de higiene por causa de seu crescimento, pela proximidade com o Cemitério dos Inocentes e por volta de 1850 uma grande reforma se inicia. É nesta época que o local fica conhecido como o “Ventre de Paris”, em referência à obra de mesmo nome de Émile Zola. A reforma chegaria ao fim somente mais de 80 anos após iniciada, sendo finalizada em 1936.
Em 1960 decide-se pela transferência do mercado para fora do centro da cidade, para Rungis e La Villete. Daí em diante, entre demolições e reconstruções, foram inaugurados em 1977 o RER e linha 4 do metrô, em 1979 a primeira parte do Forum (o centro comercial), em 1985 sua segunda parte e em 1986 e 1989 os jardins e parque do Les Halles. Na década de 1970 de “ventre”, o centro passou a ser conhecido como o “buraco” de Paris, referência a sua construção abaixo do nível da rua. A sequência é a nova reforma, iniciada em 2004-2007.
Para voltar à Paris não é necessário um bom motivo. Imaginem se tivermos um?
Com informações do Le Parisien, L’Express, Mairie de Paris, Le Nouvel Obs e Wikipedia. Imagens de Vincent Montcuit.