E o novo aeroporto alemão atrasou (várias vezes)
pelo viajante Guilherme Guerra, em
Havia um tempo em que Berlim tinha três aeroportos: Tegel, Tempelhof e Schönefeld. Porém, após a reunificação da Alemanha, os governantes da cidade achavam que essa configuração não era mais adequada. Um novo aeroporto, imponente e digno da capital do país e que pudesse concorrer com os outros grandes aeroportos alemães, de Frankfurt e Munique, precisava ser construído.
Após algumas dificuldades para definir o local, em junho de 1996 foi decidido que os aeroportos de Tegel e Tempelhof seriam fechados e Schönefeld, o antigo aeroporto da Alemanha Oriental, ampliado. Uma decisão da qual os responsáveis devem se arrepender hoje. Isso porque o projeto acumula um problema atrás do outro. A inauguração já foi adiada quatro vezes.
No início das obras, em 5 de setembro de 2006, previa-se que as primeiras aeronaves iriam decolar e pousar no novo aeroporto Willy Brandt em outubro de 2011. Mas já naquela época apareceram as primeiras complicações: a Sociedade Aeroportuária Berlim-Brandemburgo (Flughafen Berlin Brandenburg GmbH, em alemão), responsável pela operação do aeroporto, queria mais espaço para restaurantes e lojas.
Em 2007 a lista de novas necessidades aumentou. De repente, eram necessárias mais pontes telescópicas (para embarque e desembarque nos aviões, aqui conhecidas como “minhocões”), esteiras rolantes e portões de embarque e desembarque. Mas a data da inauguração foi mantida e, conforme planejado, foram encerradas, em 30 de outubro de 2008, as atividades em Tempelhof, o aeroporto mais antigo de Berlim.
Só em junho de 2011 a operadora reconheceu que não haveria tempo suficiente para a conclusão das obras e a inauguração planejada para outubro de 2011 foi adiada para 3 de junho de 2012. A falência de uma empresa de planejamento e normas de segurança mais rígidas foram as justificativas apresentadas. Os responsáveis pela construção asseguraram, porém, que a nova data de inauguração seria mantida e que não haveria novos atrasos.
A opção por Schönefeld foi polêmica desde o início. Os antigos aeroportos militares soviéticos de Jüteborg e Sperenberg, localizados nos arredores de Berlim, também eram tidos como boas opções, mas Schönefeld se impôs por sua proximidade da região sudeste da cidade. Havia, porém, duas desvantagens: o excessivo barulho causado pelos aviões incomodaria os moradores da região e, consequentemente, haveria dificuldades para o tráfego aéreo 24 horas.
Seguiram-se diversas negociações sobre os voos noturnos. Se eles fossem permitidos, seria possível atrair novos clientes, especialmente no transporte aéreo de cargas. Contudo, em 20 de outubro de 2009 foi definido que o tráfego aéreo entre a meia-noite e as 5h seria estritamente proibido. Dois anos depois, ações movidas por comunidades e moradores da região contra o tráfego aéreo noturno até a meia-noite e cedo da manhã foram rejeitadas pelo Tribunal Administrativo Federal, localizado em Leipzig.
No início de 2012, a data da inauguração se aproximava. Ainda em meio às obras, centenas de pessoas já participavam de simulações do funcionamento do aeroporto, como check-in, despacho de bagagem e controle de segurança. Jornalistas foram guiados pelo aeroporto, e a imprensa já publicava reportagens e histórias sobre a transferência de escadas de acesso aos aviões, caminhões de bombeiros e funcionários. Uma mudança de aeroporto é, sobretudo, uma questão logística.
Pelo plano traçado, as atividades no aeroporto de Tegel deveriam ser completamente encerradas na madrugada de 3 de junho e transferidas para o novo aeroporto Willy Brandt, em Schönefeld. Entretanto, em 8 de maio de 2012, menos de quatro semanas antes da inauguração, aconteceu o inacreditável: a inauguração planejada para 3 de junho foi suspensa devido a deficiências no sistema anti-incêndios. A secretaria de obras do distrito de Dahme-Spreewald, a mais alta instância de fiscalização desta obra, não liberou o aeroporto.
O prefeito de Berlim e então presidente do conselho fiscal das obras, Klaus Wowereit, anunciou a nova data de inauguração: 17 de março de 2013. O chefe de planejamento do megaprojeto, Manfred Körtgen, foi demitido.
Os problemas para os organizadores da construção não pararam por aí. Em junho de 2012, os moradores da região obtiveram na Justiça o direito a melhorias na proteção contra os ruídos. Segundo o Tribunal Administrativo Superior de Berlim-Brandemburgo, a Sociedade Aeroportuária teria cometido “erros sistemáticos” em seu programa contra a poluição sonora. A decisão encareceu a obra em 1 bilhão de euros, totalizando um valor superior a 4 bilhões de euros.
Em setembro de 2012 já estava claro que também a data de 17 de março de 2013 era inviável. O conselho administrativo adiou a inauguração novamente, desta vez para 27 de outubro de 2013. Um rombo orçamentário de cerca de 1,2 bilhão de euros vem à tona. O dinheiro é necessário para quitar os custos de construção e das novas medidas contra a poluição sonora, bem como de despesas adicionais causadas pelo constante adiamento da conclusão das obras. O custo final chegava a 4,3 bilhões de euros.
Simultaneamente, o legislativo berlinense abriu uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o escândalo envolvendo o aeroporto. Em dezembro de 2012 foram divulgados pareceres técnicos que afirmam que a capacidade máxima seria alcançada já na abertura do aeroporto. Segundo os técnicos, o local não comportaria o número previsto de passageiros. Tanto os balcões de check-incomo as esteiras para a bagagem ficariam completamente sobrecarregados.
Em 6 de janeiro de 2013, diversos órgãos da imprensa alemã informaram que o conselho administrativo havia adiado mais uma vez a abertura do novo aeroporto. Segundo as matérias, a decisão já havia sido tomada em 18 de dezembro do ano passado, sem ter sido tornada pública. A liberação das pistas não deve acontecer antes de 2014.
O novo adiamento teria como motivo central erros de construção, principalmente no sistema de segurança contra incêndios. No dia seguinte, Wowereit anunciou a sua renúncia como presidente do conselho adminstrativo da Sociedade Aeroportuária. Numa reunião antecipada para 16 de janeiro, o conselho deverá discutir sobre o possível afastamento do superintendente do aeroporto, Rainer Schwarz.